A escolha profissional de Flávia Miranda de Jesus não nasceu de um sonho de No Dia da Consciência Negra, colaboradores do Hospital Reg...
A escolha profissional de Flávia Miranda de Jesus não nasceu de um sonho de
No
Dia da Consciência Negra, colaboradores do Hospital Regional de Santa
Maria compartilham suas trajetórias e o desejo de mudar vidas
O
Dia da Consciência Negra (20) não é apenas uma data no calendário: é um
convite para reconhecer histórias, dar visibilidade às lutas e celebrar
conquistas que ecoam muito além da experiência individual. No Hospital
Regional de Santa Maria (HRSM), administrado pelo Instituto de Gestão
Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF), profissionais
transformaram desafios em caminhos possíveis e hoje ocupam espaços
essenciais guiados pelo amor ao que fazem.
As
histórias reunidas na unidade hospitalar mostram que, por trás das
rotinas de um grande hospital, há trajetórias que sustentam a qualidade
do cuidado oferecido à população. Ao compartilharem seus percursos,
esses profissionais reafirmam o valor da presença negra na saúde pública
e evidenciam como caminhos individuais ajudam a construir instituições
mais fortes, diversas e comprometidas com o serviço ao cidadão. Conheça,
abaixo, essas trajetórias.
Uma vida reconstruída com coragem
Flávia Miranda de Jesus, assessora técnica da Gerência de Assistência (Gegas) | Fotos: Divulgação/IgesDF
A
escolha profissional de Flávia Miranda de Jesus não nasceu de um sonho
de infância, mas de um momento decisivo. Ela já atuava como
representante comercial quando, ao buscar orientação, ouviu de um
profissional: “Você não tem competência técnica”. Em vez de
desmotivá-la, a frase despertou o desejo de recomeçar.
Formada
em propaganda e marketing, decidiu iniciar uma nova jornada na área da
farmácia. À época, seu companheiro dizia que ela estava “velha para
estudar”. Flávia tinha 40 anos, mas, encontrou na família seu maior
suporte. “Meus pais e meus filhos sempre me apoiaram”, conta.
Hoje,
com 52 anos, a colaboradora do IgesDF olha para o próprio percurso com
orgulho. Primeira da família a conquistar o ensino superior, leva
consigo não apenas um diploma, mas uma história de força, reconstrução e
afirmação. “Sou a primeira da minha família a conquistar o ensino
superior”, comemora.
Da dor ao propósito na enfermagem
Ronaldo Lima Coutinho, chefe do Cepav Flor do Cerrado
A
trajetória de Ronaldo Lima Coutinho é marcada por um acontecimento que
transformou sua vida. Na adolescência, após um grave acidente, ele
passou mais de um mês internado em Jaciara (MT). Foi ali, entre cuidados
e acolhimento da enfermagem, que nasceu a semente de sua vocação.
Anos
depois, enfrentou uma rotina intensa para pagar a faculdade: dois
empregos, estudos e venda de lanches para complementar a renda. Apesar
das dificuldades, seguiu firme. “Sempre haverá quem tente te desmotivar,
mas fui criado com resiliência, caráter e honestidade, e isso sempre
guiou minhas escolhas”, lembra. “Tive inúmeras barreiras, mas nunca
permiti que elas fossem motivo para desistir”.
Primeiro
da família a conquistar o ensino superior, ele experimenta um
sentimento de orgulho e gratidão. “Agradeço todos os dias pela
oportunidade de ajudar quem precisa”, diz. “Sou feliz, independentemente
dos desafios que surgem”.
Resiliência, propósito e reencontro
Letícia Moura Marinho de Oliveira, assessora técnica da Diretoria Clínica
A
caminhada de Letícia Marinho de Oliveira é feita de recomeços. Após
anos de estudo para concursos, foi aprovada, mas o certame acabou
cancelado. O impacto foi grande e a fez repensar seus passos. Foi então
que ela decidiu se reinventar, buscando uma carreira que a reconectasse
ao seu propósito.
Formada
em direito, Letícia enfrentou um dos maiores desafios da vida
universitária: viajar 200 km por dia para estudar, saindo de casa às
4h30 da manhã. “Nos dias em que as lágrimas pareciam maiores do que a
força, permaneci firme”, relata.
Com
apoio dos pais e do marido, hoje ela colhe os frutos desse esforço.
Sendo a segunda pessoa da família a concluir o ensino superior, depois
da mãe, Letícia tem orgulho da mulher que se tornou: “A certeza de que
somos capazes é o que me motiva a seguir avançando. Somos capazes de
chegar aonde quisermos quando unimos dedicação, propósito e
perseverança”.
O cuidado como missão e representatividade. Dartway Santhiago, enfermeiro rotineiro do Serviço de Enfermagem da Pediatria
Sonhar
com medicina foi o ponto de partida para Dartway Santhiago, mas a vida o
conduziu à enfermagem. Hoje, ele reconhece com plenitude que encontrou o
caminho certo. “A essência do meu sonho sempre foi cuidar das pessoas”,
resume.
As
dificuldades foram inúmeras — sociais, financeiras e emocionais — e, em
alguns momentos, quase o fizeram desistir. Mas o propósito sempre falou
mais alto. Como homem negro, Dartway carrega a representatividade como
missão e orgulho. “Ocupar o espaço que estou hoje é motivo de muita
honra”, valoriza. “Essa história não é só minha: ela é de muitos que
vieram antes, lutaram para que eu pudesse estar aqui e dos que virão”.
Ele
integra uma família de quatro irmãos, todos homens negros e com
formação superior. Único da área da saúde, assume com responsabilidade o
papel de inspirar, abrir portas e fortalecer caminhos para quem ainda
sonha trilhar esse percurso.
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